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Por que menina de vidro?

Quando entendi que eu era uma “menina de vidro”, ainda desconhecia o livro de Jodi Picoult, no qual a autora norte-americana recorre à metáfora do vidro para se referir à criança que sofria de osteogênese imperfeita, doença grave que a fazia ter ossos extremamente frágeis. 
 

Por isso foi uma grata surpresa conhecer a obra e perceber que havia um paralelo com a minha analogia: ambas carregamos uma fragilidade. Mas, diferentemente da personagem, minhas fraturas não eram físicas.
 

Passei grande parte da minha vida tentando me encaixar em padrões com os quais eu não me identificava, o que me custou um bocado de energia e ainda deixou um rastro de frustração, culpa e baixa autoestima. Até que um dia o vidro começou a trincar… 
 

Felizmente, antes que só sobrassem os cacos, a mestra dor veio me fazer uma grande visita de despertar.
 

Ao longo do processo de reconstrução (que permanece), achei que precisava entender quem eu era, o que eu gostava ou não, quais sonhos de fato eram meus e, principalmente, se havia algum problema com a minha “hipersensibilidade”. Desejava saber se era esse o motivo de eu me sentir tão deslocada. Só assim conseguiria recalcular a rota, imaginei. 

Pesquisei muito sobre o autismo e achei que houvesse matado a charada. Então vi uma palestra sobre “crianças cristal” e também me identifiquei. Li alguns livros sobre o assunto e mudei de ideia: talvez eu tivesse mais traços (perturbações) dos índigos (afinal, tô longe de ter a pureza dos cristais). Mas também poderia ser mediunidade, ou simplesmente timidez.

 

Eram tantas as possibilidades…

Até que me dei conta de que, novamente, estava tentando me encaixar em padrões que não me pertenciam. Dessa vez, porém, decidi criar uma categoria própria, individual e única: eu seria de vidro.

Às vezes pareço delicada como cristal, mas sou apenas vidro. E isso não me diminui. Como vidro, também tenho propriedades úteis, versáteis e (por quê não?!) valiosas. 
 

Como uma menina de vidro, posso ser translúcida ou nebulosa, transparente ou colorida. Posso ser convergente, ou divergente. Posso ampliar como uma lupa ou refletir como um espelho. Posso ser muro que separa ou teto que protege.
 

Além disso, o vidro é feito de areia, ou seja, é composto por milhões de grãos de rocha triturada. Logo, ele traz a dureza da rocha em essência, a permeabilidade da areia enquanto caminho e, ao final do processo, a flexibilidade para se transformar e ser moldado, depois de exposto a altas temperaturas. 
 

Ou seja, como menina de vidro, carrego dentro de mim tanto a força de uma rocha, quanto a maleabilidade de uma criança, que, ao longo da vida, passou por inúmeras “provas de fogo”.

E sei que não sou a única. Por aí há diversos meninos e meninas de vidro, cada um assumindo uma forma. Alguns se tornaram vasos, outros garrafas, outros enfeites. 
 

Hoje, com este blog, escolho ser uma lente, pela qual desejo que os olhares mais atentos possam captar algumas das sutilezas espalhadas por esse mundão de meu Deus e se encantar com elas junto comigo. 

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