O que você faz com as bênçãos que recebe?

Dia desses saí tarde do trabalho e bateu aquela insegurança ao ir embora. As ruas já estavam desertas e eu precisava andar alguns quarteirões à noite, sozinha, até chegar em casa. Mas não havia alternativa, seria pior ficar parada, no meio do nada, à espera de um "Uber" que aceitasse a corrida de poucos metros. 

Foi quando pensei: se não há pessoas ou policiais por perto, por que não pedir ajuda aos guardiões do mundo espiritual? Afinal, “Deus ajuda o homem pelo homem”, sejam esses ajudantes encarnados, ou não.

Lembrei-me dos "Exus batizados", espíritos que atuam na linha da justiça (a justiça verdadeira, Divina). Eles trabalham em diferentes frentes e ajudam a manter a ordem, em nome do “Homem Grande”, como se referem ao Senhor da Vida. Pelo o que eu soube, há Exus responsáveis por zelar por regiões, bairros e ruas. Decidi mentalizar o que estivesse de plantão no meu trajeto e pedi que me guiasse em segurança até minha casa. 

Lá fui eu... acelerei o passo e foquei no meu destino. Arrepiava ao imaginar a poderosa escolta do além me acompanhando, mas me mantinha atenta ao entorno do mundo físico. Afinal, não adianta pedirmos socorro e não fazermos nossa parte, não é?!

Após uma caminhada de pouco mais de dez minutos (que pareceu uma maratona), finalmente avistei a entrada do meu prédio. Aproveitei a força extra que a adrenalina liberou em meu corpo e corri, como um cavalo que retorna a galope ao se perceber no caminho de casa. Que alívio, eu estava bem, graças a Deus! 

Adentrei no meu lar, tomei um banho quentinho, papariquei meus gatos, preparei alguma coisa para comer e logo me esqueci da tensão vivida minutos atrás, imersa nas tarefas daquele final de dia.

Somente tempos depois, ao me deparar com a mesma situação (precisando invocar proteção de Deus) foi que me dei conta: eu não havia agradecido ao Exu que me protegeu meses atrás... percebi que, assim que conquistei a segurança de que necessitava naquele dia, simplesmente me desconectei.

Fiquei chateada por minha negligência, mas o descuido acabou me proporcionando uma reflexão importante: quantas vezes, ao longo da vida, a gente pede uma bênção, recebe e… logo se esquece?

Geralmente, ao direcionarmos nossas petições aos Céus, colocamos todo o coração. Por vezes ainda nos comprometemos com promessas do tipo: “se eu alcançar a cura, vou me cuidar melhor”; “se eu conseguir esse trabalho, ajudarei outras pessoas”; “se eu sair dessa cilada, serei uma pessoa diferente”. Mas e depois da conquista? O que acontece?

Não acho que Deus nos conceda alguma bênção porque confia em nossos juramentos. Acredito que, se Ele permite que algo se manifeste em nossa vida, é porque sabe que a concessão pode trazer algum aprendizado a nós e a quem está próximo. Mas estamos atentos para perceber essas bênçãos sutis, incluindo aquelas que se manifestam como desafios? Estamos dispostos a usá-las como ferramentas, para irmos mais longe? 

Ou assim que nos sentimos mais seguros, deixamos de priorizar o esforço, o aprendizado e os sonhos que alimentávamos? 

A gente agradece e honra o que recebe ou logo se esquece? Multiplica o “talento” obtido ou o enterra e se acomoda?

Que tal listar pequenas dádivas alcançadas no dia de hoje, na última semana, no último mês e no último ano, que merecem sua gratidão?! Muita gente vai se surpreender com a quantidade de "graças" que passam despercebidas no dia a dia…

Não sei quais bênçãos você ainda sonha receber, mas uma coisa eu sei: Deus é bom e nos surpreende com conquistas muito maiores e melhores do que as que imaginamos, no tempo certo. 

E qual é esse tempo? O necessário, até que sejamos capazes de reconhecer uma oportunidade, usufruí-la e multiplicá-la, com menos risco de nos complicarmos com ela.

Mais do que pedir, é preciso saber ganhar. Assim como mais se espera de quem mais recebeu.

Sejamos gratos, responsáveis e fiéis no pouco (que já é muito!), para que a Fonte Criadora, que a tudo vê e tudo provê, possa nos confiar o infinito…

O que você tem feito com as bênçãos que chegam a você?